A academia, o canudo e o desprezo ao aluno

             

        Ari Monteiro *
(Graduando em Filosofia,  3.º Periodo - UMESP)


            Há  muito tempo, passeando em mais uma aventura literária, encontrei em Borges uma critica velada à academia, mas passou, foi como a maioria das coisas que lemos, como dizia Barthes, o privilegio do esquecimento, mas ainda nesses dias lendo Zigmunt Balmer encontrei a mesma critica, o que me fez refletir: O que estou fazendo do lado de dentro dos muros da academia?
            A primeira justificativa que me aparece de imediato, é que gosto demais de filosofia e freqüentar a universidade era um sonho desde a juventude, e agora, com idade de certa maneira esticada, esse sonho poderia ser realizado sem grandes riscos para minha integridade moral - tenho muitos resquícios morais, somos apenas a ponte para o além-homem como nos ensinou o Zaratustra de Nietzsche - e financeira. Aquele papo que nós os estudantes de filosofia ouvimos sempre: mas vai viver de filosofia? Outra fundamentação que encontro é que ficou mais “fácil” estudar, EAD é mais barato e não temos que ficar agüentando aqueles professores que entram na sala de aula para falar de tudo, do cachorro, da sogra que está com reumatismo  e até mesmo do carro novo que comprou para a esposa, menos o assunto da aula, um verdadeiro porre, não tenho mais idade para agüentar esse tipo de discurso. Ainda uma outra, essa de caráter erudito, o desejo de conhecer mais profundamente o pensamento dos homens que fizeram e mudaram, a seu tempo, a historia do ocidente, essa para mim é a mais forte e profunda.
Dadas três justificativas ou podemos chamá-las de proposições ou ainda de teses, simples semântica,  o questionamento deve ser feito para cada uma. O primeiro  argumento é insustentável por si só, pois gostamos de tantas coisas e poucas delas realizamos por um motivo ou outro, só desejamos o que não temos, aula do professor Clovis de Barros Filhos ainda está na memória, assim o simples desejo não justifica o ato de voltar aos estudos, muito menos a “idade” , a moral ou a situação financeira – essa então vai de mal a pior .Logo não posso me pautar por essa argumentação. A segunda, tenho que colocar a academia em si como objeto de análise, a não ser o fato de EAD ser mais “barato”, essa tese também não se sustenta, os professores são mal preparados, se acham os “donos do saber” em sua grande maioria – uma pretensão ridícula, mas acontece -  e por incrível que pareça, alguns continuam falando do cachorro, da sogra e do carro. A terceira então, é a desilusão   total com a academia, poderia aqui ir a forra, mas o espaço publico que esse artigo será postado não admite tal posição, tudo, tudo mesmo não é exagero, é fora propósito, o conteúdo programático um desastre, as aulas, os assuntos, os pensadores são passado de acordo com a mão de obra - os professores mesmo - disponível naquele semestre, curso ou aula, perdi a conta de aulas “tampa buraco”. Os tutores, coordenadores e outros “ores” são uma calamidade, nenhum preparo técnico para exercer as funções, trocam datas, não dominam o ambiente informático que possuem, enfim pouco ajudam e muito se desculpam. Uma raridade é aluno brigar para ter aula, e isso acontece na academia, pelo menos na minha.
Visto que a situação acadêmica assim caminha, mais forte a vontade de jogar tudo para o ar e sentar no “quartinho de estudo”  e fazer o trabalho eu mesmo, procurar em Borges, em Barthes, em Rubem Alves, em Spinoza, Aristóteles, Bauman,  assim como tantos outros a desejada erudição, mas aí perguntam alguns: Vai ficar sem o canudo? 

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