RESENHA: “Ímpio – O evangelho de um ateu: memórias”


por Roberto Sammi
licenciando Filosofia


Uma vida não examinada não merece ser vivida
frase atribuída à Sócrates


O livro é a autobiografia de Fábio Marton, que remonta a sua história desde a infância com 8 anos também conhecido como “pastorzinho” até a idade adulta onde o autor se intitula “do mundo ”.


Particularmente fui preconceituoso quando soube que havia sido publicado um livro por um ateu brasileiro sobre sua desconversão; pensei que seria apenas um evangélico em dúvida de sua fé, que daria, como em alguns cultos, testemunhos de um milagre.

Mas para minha surpresa durante a leitura pensei diversas vezes: “eu poderia ter escrito isso” ou “isto já aconteceu comigo”. O leitor é conduzido por alguns “lugares” que retratam a força de uma fé, como e quando ela se apresenta e por quais motivos.

Entre combates de Jesus contra macumbeiros

"(..) eu, Ryu do Senhor, lancei um especial de Cristo (hadouken), e a mãe de santo , uma bola macumbeira de Satã (...)”;


entre curas e línguas estranhas, acompanharemos os pensamentos que se passavam nestes momentos com o autor, acompanharemos seus dilemas pessoais, seus dramas familiares e suas dúvidas.

Àqueles que pensam que irão encontrar no livro algum tipo de militância neo-ateísta, irão se decepcionar, pois não é um manual de como perder a fé ou desconversão; mas um livro que relata as estruturas de formação de uma criança domesticada a ter fé até o momento em meados da adolescência, onde diversas dúvidas não respondidas e associações cognitivas de eventos vividos o levaram a racionalidade dolorida e até então não experimentada.

Acompanhará o repúdio por parte da sua família, pela sua descrença.

Para os ateus e agnósticos há uma visão de humanização e mesmo empatia para com os crentes religiosos, para os crentes religiosos o "frio na espinha" de se reconhecer mesmo que por um momento com as experiências do autor.

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