O blog, o povo na rua e o cotidiano


                                                        
Ari Monteiro

Pode parecer para alguns que esse blog foi abandonado, ledo engano para a tristeza dos nossos leitores e amigos. Aqui estamos de volta e para falar sobre fenômeno (lembremos que para a filosofia o fenômeno é o que se apresenta).
O momento presente de nosso país exige reflexões que vai  desde a simples ideia de que o povo na rua é mais um "desses baderneiros de esquerda" (quantas vezes não ouvimos isso no início do anos 80, não é amigo Marcelo),  até  complexas análises sociais feitas por intelectuais, cientistas, filósofos e outras tantos "especialistas" em povo.
Os de ideias simplórias, que não necessitam de longas reflexões para serem entendidas e não abrem caminho para grande debate, encontramos pessoas como este que escreve essas linhas, filho de uma ditadura cruel, jovem que no início da década de 1980 militava em uma esquerda, onde ela própria ( a esquerda) se digladiava sobre cadáveres como Stálin, Lenin, Trotsky e criavam siglas a partir desses ídolos de pés de barro (olha Nietzsche gritando) . Brigavam entre si a Libelu, a Causa Operária, o PCB, entre tantas siglas e sopas de letras, cada um olhando para o próprio umbigo e reivindicando para si a tutela de levar o povo ao poder (sonhos de uma juventude, será que do passado mesmo?). Essa existência (já que a essência vem depois, como nos ensinou Sartre)  desaguou na minha  ultima  experiência de rua  que foi o movimento da Diretas-já, final de uma ditadura, porém: um movimento popular manipulado e tutelado pelos políticos, que através dos acordos escusos e sujos, derrotou o povo nas ruas desse país e nos deram um "colégio eleitoral" que eles (os políticos) acharam legitimo e o possível para o momento do Brasil.
Os de análises complexas encontramos "doutores" em estado de espera: "não se pode arriscar um caminho a ser seguido após esse movimento popular" , "Não se pode deixar que a Ordem Democrática seja colocada em risco" (como se essa ordem democrática não fosse imposição de alguns para muitos): " O movimento é legitimo porém não tem liderança" (muitos no passado tiveram e foram manipuladas). Obtivemos as mais diversas "análises" especializadas e vemos e sentimos a falta de experiencia em "povo" dos nossos dirigentes e elite intelectual dominante.
O que saltou aos olhos e mentes foi a explosão de uma juventude (jovens sim, os velhos vieram apoiar depois) que não aceitou tutelas de partidos, de oportunistas, de profissionais da política (embora o MPL ter postura de facção politica, mas também não conseguiu ficar no comando do movimento).
A falta de líderes, a falta de uma pauta (é assim que definem objetivos) definida, a espontaneidade das caminhadas, entre tantas coisas "fora de lógica",é que tornou esse movimento belo, eficaz e profundo, pois mesmo que não continue, ele marcou a fogo muitas mentes, alguns políticos (porque a maioria é esperta o suficiente para não chegar perto) e grande parte da elite "pensante" desse Brasil. 

Comentários

  1. Ari que lucidez, vivemos isso, essa política importada e bolorada sobre leninismo e trotkismo, socialismo e comunismo, como alma e espírito. Sua análise é crua; a direção do movimento e a objetividade, que até o Silvio Santos cobrou, não há devido existir nas mentes e corações e na experiência de sofrimentos e desilusões com a categoria desclassificada e desqualificada dos políticos brasileiros.
    Eles se assustam devido descobrirem que construiram um pré-64 e podem viver um pós-64 novamente. Apesar que o cenário mundial é outro e não tem militar com cunhões para a dar o golpe e dirigir esses quase 200 milhões de brasileiros sendo que 60% é de pobre, mas pobre que passa dificuldade para comer o mês inteiro decentemente para não adoecer.
    Seu artigo é pertinente e resgata nossa história passada e recente e se antes o povo não falava, não tinha opinião e esperava mesmo que viesse das mãos dos militares.
    Hoje eles falam até demais e xingam e cospem e exigem ao menos que a neoescravatura brasileira seja abolida novamente, se pensarmos na nossa herança cultural. Você já foi a Bahia, aqui em Minas Gerais, a herança escravocrata é tão grande cara e tão perversa que as relações entre as pessoas é tensa. O mineiro é desconfiado, pão duro, arisco, debochado e não valoriza seu irmão e o seu trabalho e um vigia e malha o outro.
    Na Bahia, como a maioria é de origem negra é a mão branca, essa herança maldita de ter desenvolvido esse país com o sangue negro, não se vê tanta sacanagem.
    Enfim, é isso mesmo, temos que falar, escrever, reivindicar, mas o brasileiro em termos de irmandadde, amizade e companheirismo ainda precisa aprender anos mil-luzes...
    Abraços!

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