O MUSEU DO FOLCLORE
A academia não surpreende mais ninguém com suas peripécias e professores despreparados, principalmente no finalzinhooo quando precisamos mostrar (ou demonstrar) a nossa competência com os TCC's e tudo que inventam para terminar a graduação.
Mas porque essa frase de maus bofes? Minha filha (muito competente por sinal), que termina o curso de arquitetura no final de 2013, fez um projeto lindíssimo e de uma importância impar para a perpetuação (melhor seria falar resgate) das raízes do povo brasileiro, falamos de um MUSEU DO FOLCLORE, que já pelo nome dispensaria maiores justificativas.
Porém para nossa admiração, foi solicitado uma fundamentação (como se o popular, o povo, as raízes, precisassem disso) de o porque da estrutura, o prédio, ter forma circular (já que os museus em geral mais parecem labirintos) e porque uma região tal (no caso particular o Parque do Carmo) deveria ter um Museu do Folclore?
Em vista disso fizemos uma rápida pesquisa e dai surgiu o texto que posto aqui no nosso blog.
Projeto Museu do Folclore - Autora Ariadne Milane Monteiro |
O Folk-lore ou o Folclore
Ari Monteiro
Não
consiste o folclore na obediência ao pitoresco, ao sertanejismo anedótico, ao
amadorismo do caricatural e do cômico, numa caçada monótona ao pseudotípico,
industrializando o popular. É uma ciência da psicologia coletiva, com seus
processos de pesquisa, seus métodos de classificação, sua finalidade em
psiquiatria, educação, historia, sociologia, administração, política e
religião. (CÂMARA CASCUDO, pg. 15)
Assim
o grande antropólogo Câmara Cascudo, no prefácio do volume 2 de sua obra
Antologia do Folclore Brasileiro, justifica a importância do folclore, não só o
folclore brasileiro mas o de todos os povos.
A
etimologia da palavra folclore advém do vocábulo inglês Folk-lore que engloba lendas, cantigas, mandingas e
fabulas entre outros. É também denominado (o folclore) uma ciência do povo como
vimos na exposição de Cascudo.
O
folclore não pode e não deve ser colocado de lado, marginalizado, dentro da
cultura de um povo, pois quando isso ocorre, o perfil, as raízes desse povo
corre o risco de desaparecer, o solo cultural se torna fértil para a dominação, seja ela de qualquer espécie, tirania, massificação ou o pior deles, o
esquecimento de onde veio e para onde vai esse povo. Logo o folclore mostra,
delineia, vislumbra raízes profundamente populares, onde qualquer manifestação
oral ou escrita pode aprofundar lendas ou mesmo gerar costumes.
Na
sociedade da técnica ( que tanto nos alertou Heidegger ), ou na modernidade líquida
de Zigmunt Balman, que vivemos hoje, é premente que nossas raízes sejam
vivicadas , resgatadas e trazida a luz, a mais brilhante possível.
As
manifestações folclóricas desapareceram
do grandes centros urbanos, raros são os lugares para os encontros com nossa cultura popular, a história, as lendas
as cantigas fazem parte do popularesco de nossos antepassados , logo está
inserido em nosso coletivo, queiramos ou não, e está perigosamente ameaçada.
Amadeu
Amaral num artigo publicado do jornal O Estado de São
Paulo em 30 outubro e 6 novembro de 1925, conclamando a necessidade da formação
de uma Sociedade “Demológica” (como também é chamado o folclore mais
eruditamente), escreve: “O folclore
estuda os produtos da mentalidade popular. O povo tem uma ciência a seu modo,
uma arte, uma filosofia, uma literatura – ciência,arte, filosofia e literatura
anônimas. Tem também um direito,uma religião e uma moral que se distinguem dos
que lhes são impostos pela cultura da escola ou lhe vêm por infiltração natural
de influencias ambientes...(CASCUDO. Pg. 192).
Assim
podemos afirmar que, qualquer atitude, no sentido de tornar “ato” e não
potencia, que nos remete à teorias e não práticas efetivas (ato) devem ser
levadas a fundo no sentido de resgate das raízes populares, pois nela reside um
conhecimento inestimável de um povo.
O Circulo, o Redondo.
Nos
ensinam que a humanidade mudou de rumo quando descobriu o fogo e inventou a
roda. Daí podemos supor a importância dessa figura geométrica perfeita na
historia do homem.
Como
símbolo religioso encontramos em praticamente os povos antigos, o circulo como
representação da perfeição cósmica, da união com o divino, o infinito e o
eterno, para os persas o circulo remete ao destino, no Islã orações são feitas
dentro de um circulo.
Para
a ciência, os antigos gregos tinham no circulo a representação da perfeição
abstrata e foi a partir daí (um dos fatores) do desenvolvimento da matemática,
da física, da astronomia, enfim das ciências naturais, um exemplo é a geometria
de Euclides (Sec. III AC). A revolução de Copérnico (1473- 1543) e Galileu (
1564-1642) mudaram os rumos da ciência porque tiraram o planeta terra de sua
orbita perfeita em torno de si mesma e o colocaram girando em torno do sol, nasce aqui a
modernidade, depois sacramentada com Descartes (1596- 1650).
São
inúmeras a presença do circulo ou do redondo na folclore brasileiro, dentre
elas podemos citar, as danças de roda,o Côco
em praticamente todo nordeste, a Ciranda
em Pernambuco e Paraíba (mas com variações em quase todo país), o Tambor da Crioula nos estados do norte,
principalmente no Maranhão e Piauí.
O redemoinho, que ao se manifestar, traz dentro de seu circulo o Saci, e para pegá-lo temos que jogar sobre o redemoinho uma peneira (redonda), aprisionando assim o pobre negrinho(eu e minha irmã mas velha, saímos um dia para caçar saci. Ao deparar com um redemoinho, jogamos e peneira, depois saímos em disparada para casa, e nunca mais voltamos pegar o referido objeto, e nem o Saci).
O redemoinho, que ao se manifestar, traz dentro de seu circulo o Saci, e para pegá-lo temos que jogar sobre o redemoinho uma peneira (redonda), aprisionando assim o pobre negrinho(eu e minha irmã mas velha, saímos um dia para caçar saci. Ao deparar com um redemoinho, jogamos e peneira, depois saímos em disparada para casa, e nunca mais voltamos pegar o referido objeto, e nem o Saci).
Na
filosofia, Nietzsche, coloca na doutrina do “eterno retorno do mesmo” um tempo
circular, e não linear, e assim descreve a vida como um repetição de si mesma numa quantidade infinita de vezes, é o circulo da vida como a valorização do
momentos dessa mesma vida vivida, é o amor ao destino o amor fati Nietzschiano.
Encontramos,
então, a presença do circulo, do redondo, em praticamente todas áreas do
conhecimento humano, sendo impossível relega-lo a planos inferiores ou
mesmo esquecê-lo, quando desejamos criar (tornar ato) algo que vá no sentido do popular ou do
folclore.
Referencias
CASCUDO,
Câmara. Antologia do Folclore Brasileiro, Vol. 2: ....
________________
Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Melhoramentos, 1976.
HOLANDA,
Sergio Buarque de. Raízes do Brasil, 6ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio,
1971
RIBEIRO,
Darcy. O
Povo
Brasileiro - A
formação
e
o
sentido
do
Brasil, 2ª Ed. São Paulo: Companhia da Letras, 1975.
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