ARTE

Arte e uma impressão
Ari Monteiro
David Hume nos ensinou, em seu empirismo, que uma impressão (dos sentidos) entrega ao conhecimento mais significações que qualquer ideia, o que nos leva à inferir, que os sentidos são superiores (ou mais significativos) à ideias e ilusões apresentadas ao intelecto, então, pergunto, a arte pode explodir ( ou implodir, ou eclodir) ou provocar rupturas no conhecimento?
Em resumo, todos os materiais do pensamento derivam de nossas sensações externas ou internas; mas a mistura e composição deles dependem do espírito e da vontade. Ou melhor, para expressar-me em linguagem filosófica: todas as nossas idéias ou percepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas.(HUME, pg 11)[1]


Desde a ruptura do mito com o logus (aurora da razão platônica) a arte foi considerada imitação da realidade (mimese), assim como o mundo sensível não representa a “verdade”, mas no mundo supra-sensível habita a verdade. Com, e depois, de Platão, a filosofia sempre tratou da “arte”, tanto que e estética (com Aristóteles) se tornou um dos campos da reflexão filosófica e assim caminha a mais de dois milênios, porem, em um dado momento histórico, sem obedecer a determinismos, se prender a conceitos, solipsismos ou regras,  a arte se libertou, mesmo sendo decretada, muitas vezes, sua morte (Hegel, em um momento histórico, no processo de efetivação do “espírito absoluto”, a arte sucumbirá) ou elevada como redentora da humanidade (Schopenhauer, a música como sendo a própria Vontade (a coisa em si) e não representação, e Nietzsche como o apolíneo e o dionisíaco).
Pois a música nunca expressa o fenômeno, mas unicamente a essência íntima, o em-si de todos eles, a Vontade mesma. A música  exprime, portanto, não esta ou aquela alegria singular e determinada, esta ou aquela aflição, ou dor, ou espanto, ou  júbilo, ou regozijo, ou tranquilidade de ânimo, mas eles  mesmos, isto é, a Alegria, a Aflição, a Dor, o Espanto, o  Júbilo, o Regozijo, a Tranquilidade de Ânimo, em certa  medida in abstracto, o essencial deles, sem acessórios, portanto também sem os seus motivos (SCHOPENHAUER, 2005, p. 343).[2]
Mais próximo de nossos dias, no século XX, a escola de Frankfurt, mais enfaticamente, Adorno, Horkheimer e Benjamin, a “Indústria Cultural”, manipulada por nichos do poder do capital, a arte será produto de consumo do capitalismo e as obras de arte, objetos de demonstração de poder e ostentação pela classe abastada de capital, e, implícito, o poder constituído. Danto pensa o aparecimento de uma pós historia de arte, onde na modernidade (ou pós-modernidade), que denomina “Era dos Manifestos” arte se imuniza e segue um caminho próprio, onde a obra pergunta a si, “porque aquele objeto é um obra de arte?”
imune a manifestos e demandando uma prática inteiramente crítica ...uma obra de arte pode consistir de qualquer objeto a que se atribua o status de arte, suscitando a pergunta “Por que sou uma obra de arte?” ou “o que faz a diferença entre uma obra de arte e algo que não é uma obra de arte quando não se tem nenhuma diferença perceptual interessante entre elas?” (DANTO, 2006, pgs 33,17,40)[3]
De dentro, ou fora, da filosofia, da história ou da ciência, que nos afeta (nos provoca o pathos), desperta, rompe, assusta, provoca sentimentos, a arte ou a obra de arte continua, queiramos ou não, objeto de ostentação, porém, mesmo distante, principalmente em uma sociedade como a nossa (falando de Brasil), em dados momentos (raros) temos acesso ao mundos artes, insisto, mesmo elitizado, e quando esse encontro se dá, a experiência dos sentidos, a “impressão” humeana se faz presente de maneira forte, causando explosões, rompendo conceitos, eclodindo pulsões, pois diante do “belo”, segundo Kant, emitimos juízos, mas perante o “sublime” nos calamos, pois este está fora dos nossos limites de racionalização.
Este “sublime”, invade nossos sentidos completamente quando nos deparamos com as obras de  Yayoi Kusama na exposição Obsessão Infinita, que está exposta no Instituto Tomie Ohtake. Da simplicidade da geometria, tão cara à Platão, o circulo (as bolas para o popular), à complexidade da beleza que nos inunda, nos remete ao interior de nossos pensamentos a partir e uma experiência exterior dos sentidos. Kusama consegue nos tirar o centro, com imagens de falos, círculos, cores, que apenas quem entra em contato pode descrever, pois sabemos desde a muito (depois de Nietzsche, Freud e Foucault), que a igualdade, a semelhança, a similitude é de cada psique, e não coletiva.



ALGUMAS FOTOS DA EXPOSIÇÃO DE KUSAMA









[1] HUME,D. Versão eletrônica do livro “Investigação Acerca do Entedimento Humano”
[2]. SCHOPENHAUER,A. O mundo como Vontade e Representação,
[3] DANTO, A, C. Após o fim da arte: a arte contemporânea e os limites da história. São Paulo:
Odysseus Editora/Edusp, 2006.

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