TEATRO É ESSENCIAL

A Alice de muitos “eus”
Ari Monteiro

Três jovens atores, um texto instigante, uma iluminação competente e um palco. Este cenário é o que encontramos em “ Se ali se visse”.
O texto nos leva, não para ao  mundo de Alice de Lewis Carroll ou à Grécia Antiga onde Sófocles escreveu uma das mais belas tragédias e a legou para o ocidente e, claro, à humanidade, mas nos remete ao nosso ser, à pergunta que atormenta a humanidade desde os seus primórdios.
Nos anseios de três Alices que colocam  alguns “porquês” - seu tamanho, seu espaço, seu eu - , o Chapeleiro, o Coelho e a Rainha de Copas abrem, e fecham, as portas de nosso imaginação para questionamentos existenciais.
Somos muitos “eu”, temos deuses, temos oráculos, criamos espaços imaginários, nos afundamos em elucubrações vazias, cheias de nada, e nos distanciamos da pergunta originária. Estes três jovens farão com que essa pergunta seja colocada na ordem do dia na sua memória, do esquecimento do seu ser  - como disse Heidegger que a metafísica é o esquecimento  do ser -  e isso é feito de maneira contundente nas falas dos personagens de “Se ali se visse”.
No decorrer dos diálogos é impossível identificar se um ator é melhor que o outro, pois os personagens se revezam, exigindo, de cada um, empenho especial, a simbiose perfeita entre eles impede o narcisismo – que sempre buscamos por termos id, ego e superego – e sempre remete à pergunta.
A cenografia e o figurino foram por demais apropriados pelo que se desejou transmitir, e assim como a iluminação impecável, importantíssima em todos os momentos, pois o trabalho exigia esta seriedade das luzes ou a falta delas.
Enfim um trabalho que precisa ser prestigiado e colocado na agenda pois ele fará com que você faça a pergunta. “Quem é você?”. Sim, essa é a pergunta originária, faça diante do espelho, pois Betto,Luci, Peter, Alice,  Chapeleiro Maluco, Rainha de Copas, Coelho e tantos outros “outros e eus” estão sempre fazendo pra você.
Parabéns ao Betto, Luci , Peter e toda e equipe!


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