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Mostrando postagens de abril, 2013

O PASTOR E O REBANHO - A ÁGUIA E A SERPENTE

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IX    Longamente dormiu Zaratustra, e não apenas a aurora passou sobre seu rosto, mas também a manhã. Enfim seus olhos abriram: admirado Zaratustra enxergou a floresta e o silêncio, e admirado olhou dentro de si.    Então se ergueu depressa, como um navegante que subitamente vê a terra, e exultou: pois viu uma nova verdade. E assim falou ao seu coração:    Uma luz raiou para mim: de companheiros necessito, de vivos - não de mortos e cadáveres, que levo comigo onde quero ir.    Mas de companheiros vivos necessito. que me sigam porque querer segui a si mesmos - e para onde quero ir.    Uma luz raiou para mim: que Zaratustra não fale para o povo, mas para companheiros! Zaratustra não deve se tornar pastor e cão de um rebanho.    Para atrair muitos para fora do rebanho - vim para isso.Povo e rebanho se enfurecerão comigo: Zaratustra quer ser chamado de ladrões pelos pastores.    "Pastores" digo eu, mas eles se chamam os bons e justos."Pastores" di

O ANÃO, O CADÁVER E O ENTERRO

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VII Nesse meio-tempo caiu a noite, e a praça se ocultou na escuridão: então a gente se dispersou, pois mesmo a curiosidade e o espanto se fadigam. Mas Zaratustra ficou sentado junto ao morto, no chão, envolvido em pensamentos, e assim se esqueceu do tempo. Enfim chegou a madrugada, porém. e um vento frio deslizou pelo solitário. Então Zaratustra se levantou e disse ao seu coração: Na verdade, uma bela pescaria teve hoje Zaratustra! Nenhum homem pescou, e sim um cadáver. Inquietante é a existência humana, e ainda sem sentido algum: um palhaço pode lhe ser uma fatalidade. Quero ensinar aos homens o sentido do seu ser: o qual é o super-homem, o raio vindo da negra nuvem do homem. Mas ainda me acho longe deles, e o meu sentido não fala aos seus sentidos. Ainda sou, para os homens, o ponto intermediário entre um tolo e  um cadáver. Escura é a noite, escuros são os caminhos de Zaratustra. Vem, rígido e frio companheiro! Levo-te para onde te sepultarei com as minhas mãos. VIII

ESCREVER É "PRECISAR"

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O Jovem aspirante a poeta Franz Xaver Kappus escreve carta para o já consolidado poeta Rainer Maria Rilke para que este avaliasse seus poemas e os criticasse para ver se prosseguiria na difícil arte. É a resposta a esta missiva que transcrevemos aqui, para que possamos sentir a profundidade do que significa "escrever". Paris, 17 de fevereiro de 1903 Prezado Senhor,     Sua carta só me alcançou há poucos dias.Quero lhe agradece por sua grande e amável confiança.Mas é isso o que posso fazer. Não posso entrar em considerações sobre a forma dos seus versos; pois me afasto de qualquer intensão critica. Não ha nada que toque menos uma obra de arte do que palavras de crítica: elas não passam de mal-entendidos mais ou menos afortunados. As coisas em geral não são tão fáceis de aprender de apreender e dizer como normalmente nos querem levar a acreditar; a maioria dos acontecimentos é indizível, realiza-se em um espaço que nunca a palavra penetrou, e mais indizíveis

O DEMÔNIO

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VI Mas então sucedeu algo que fez toda boca silenciar e todo olhar enrijecer.Nesse meio tempo o equilibrista começara seu trabalho: surgira de uma pequena porta e andava sobre a corda que se achava estendida sobre duas torres, acima da praça e do povo. Quando estava no meio de seu caminho, abriu-se novamente a pequena porta  e um rapaz de vestes coloridas, semelhante a um palhaço, pulou fora e seguiu o primeiro com passos rápidos. “ Adiante,aleijado!”.Gritou uma voz terrível, “adiante,preguiçoso,muambeiro,cara-pálida! Para eu não fazer cócegas com meu calcanhar! Que fazes aqui entre as torres? Teu lugar é na torre, devias ser trancafiado, estorvas o caminho de alguém melhor do que tu!” ­– E a cada palavra lhe chegava mais próximo; porém, quando estava somente a um passo do equilibrista, sucedeu a coisa pavorosa que toda boca silenciar e todo olhar enrijecer: - lançou um grito de demônio e saltou sobre aquele que estava no caminho. Mas esse, vendo seu rival assim triunfar, p

"NÓS INVENTAMOS A FELICIDADE"...

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V Depois de falar essas palavras, Zaratustra olhou novamente para o povo e calou. “Aí estão eles e riem”, falou para seu coração, “não me compreendem, não sou a boca para seus ouvidos. Será preciso antes partir-lhes as orelhas, para aprenderem a ouvir com os olhas? Será preciso estrondear com timbales e os pregadores da penitência? Ou acreditarão apenas num homem que balbucia? Eles possuem algo de que se orgulham. Como chamam mesmo os que os faz orgulhosos? Chamam de cultura, é o que os distingue dos pastores de cabras. Por isso não gostam de ouvir a palavra “desprezo” quando se fala deles. Então falarei ao seu orgulho. Então lhes falarei do que é mais desprezível: ou seja, do ultimo homem. E assim falou Zaratustra ao povo: É tempo de o homem fixar sua meta. É tempo de o homem plantar o germe de sua mais alta esperança. Seu solo ainda é rico bastante para isso. Mas um dia este solo será pobre e manso, e nenhuma árvore alta poderá nele crescer.

O ROSTO

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Que rosto apresentamos? Apenas em uma aparência desejante de uma realidade? A busca de uma verdade aparente ou uma realidade "real"?  GIORGIO AGAMBEN Todos os seres viventes estão no aberto, manifestam-se e brilham na aparência. Porém, apenas o homem quer apropriar-se dessa abertura, tomar sua própria aparência, o próprio ser manifesto. A linguagem é essa apropriação que transforma a natureza em rosto. Por isso, a aparência torna-se um problema para o homem, o lugar de uma luta pela verdade. O rosto é o ser inevitavelmente exposto do homem e, também, o seu próprio restar escondido nessa abertura. E o rosto é o único lugar da comunidade, a única cidade possível. Isso que, em cada singular, abre ao político, é a tragicomédia da verdade em que ele recai já, sempre, e à qual deve retornar desde o início. Isso que o rosto expõe e revela, não é qualquer coisa que possa ser formulada nessa ou naquela proposição significante, nem mesmo é um segredo desti